Pesquisar este blog

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Começa o “BBB”– Me diz o que assistes e te direi quem tu eres


Nem o otimista dos otimistas ia imaginar que depois daquele BBB, em que o Kléber Bambam e sua boneca Maria Eugênia levaram os 500 mil reais, viriam mais 13. Não sei se vocês lembram, mas, assim que o Bambam venceu, ele foi levado de helicóptero para uma entrevista ao vivo no programa do Jô Soares em São Paulo. Surreal.
Se o glamour diminuiu, o prêmio triplicou: um milhão e meio de reais para o vencedor. E enquanto na maioria do planeta o BBB é uma vaga lembrança, no Brasil, o programa continua um sucesso (por mais que, logicamente, a audiência não seja mais de 50 pontos e sim de 27 ou 28, o que é enorme para qualquer país).


No decorrer dos anos percebi algo muito interessante: o programa foi se transformando. Mais provas, mais participantes, paredões triplos, anjos, demônios, prêmios, casa de vidro, convidados internacionais, quarto do pânico, big fone, quem sabe muito mais manipulado edição a edição, o que fez com que perdesse sua inocência inicial, mas quem também mudou foi o telespectador.

O que é o BBB?

Para falar do programa é preciso entendê-lo. É um reality show onde 14 (ou mais) desconhecidos são colocados numa casa e deixados lá por quase três meses, para fazer o que? Nada. Tudo é filmado e para quem não tem pay per-view, todas as noites (e são todas mesmo) pode se ver o programa editado (nem sempre como alguns gostariam).

O que acontece?

Na maioria das vezes brigas, mulheres seminuas chorando à beira da piscina totalmente bêbadas, paixões (de mentira ou não), intrigas, conchavos, tudo para ganhar o prêmio oferecido e principalmente sobreviver uma semana a mais no confinamento. Por quê? Cada semana que passa os BBB’s ganham um valor em dinheiro, muito pouco, diga-se de passagem, mas o que realmente todos querem é “aparecer” e, cada dia no programa, ficam mais conhecidos, o que pode significar ao sair ganhar mais dinheiro em eventos nos quais chegam a cobrar até 10 mil reais (sim tem gente que paga 10 mil reais para ter um ex-BBB na sua festa). 
Claro que as beldades seminuas que choram bêbadas à beira da piscina precisam mostrar seu corpo para poder estampar nas páginas das revistas masculinas e ganhar cachês que podem variar de acordo com o tamanho (não da bunda, do cachê mesmo) de 200, 300, 500 mil ou até mais. Nessa hora se confirma a transformação em celebridade instantânea.
Além dos eventos ou tirar a roupa, muitos optam por estudar teatro, acham que a televisão está em suas veias, que nasceram para aquilo. A maioria estuda projetos e propostas que nunca foram feitos e muito menos viraram.  Mas se a Grazi e a Sabrina Sato conseguiram… …basta ter fé.
É um programa para voyeurs? Sim, claro que é. Mas acredito que a TV é para voyeurs, até ai nenhuma novidade, o que me causa espanto é ver a rejeição (justificada ou não) que o programa tem. Identifiquei pelo menos três tipos de telespectadores (ou não) que o BBB atrai atualmente:

1- O que assiste e não tem vergonha de gostar

- Este tipo de telespectador é aquele que em dezembro está esperando que seja divulgada a lista com os participantes para ver as fotos, saber o que cada um faz, de que Estado são, o mais bonito, a mais gostosa, e começar a palpitar quem será o ganhador. - Mesmo acreditando que este ano não terá tanta graça, acaba assistindo todos os dias e torcendo como se fosse o BBB 1. - Fica feliz durante os três meses que dura o programa, sabe que depois da novela tem algo para ver. As terças e domingos são um dia especial. - Não tem medo de assistir o BBB no celular no restaurante, na pizzaria ou onde quer que esteja. - Assina o pay per-view e faz questão de ver o programa editado para fiscalizar a produção e falar mal do Boninho. - Se não liga para votar (custa caro), pelo menos o faz pela internet, não somente no site do BBB, vota também naqueles de pesquisa que não valem nada, mas influenciam os telespectadores a votar em determinado candidato dependendo da porcentagem que tiver. - Como não poderia deixar de ser, sabe tudo o que acontece dentro da casa e odeia e ama pessoas que até 10 dias atrás não sabia que existiam. - Chega a se emocionar até as lágrimas com os discursos do Bial. - Geralmente bate uma depressão no fim de março, início de abril, quando o programa está acabando.

2- O que diz que não assiste, mas assiste

Este tipo de ser é aquele que chega à empresa e diz para o amigo que assiste ao programa: “Eu não assisto, mas vi que tem uma menina lá que é muito bonita e está ficando com um cara cabeludo” ou “Ontem estava zapeando e parei no BBB, que briga foi aquela?”
Assistiu as primeiras edições, não teve mais paciência e ouviu dizer que ver o BBB deixa as pessoas retardadas, então para de ver, mesmo morrendo de vontade (sempre que pode da aquela “espiadinha”).
A esposa acha um absurdo aquele monte de mulher mostrando a bunda sem necessidade. Ele concorda, troca de canal e comenta “onde este mundo vai parar”. Termina assistindo as bundas mais tarde no Red Tube.

3- O que se acha inteligente por não assistir

Acredito que você já leu esta frase “Assistir o Big Brother não deixa as pessoas mais burras assim como ler um livro não as deixam mais inteligentes”, mas parece que nem sempre é assim, pelo menos para alguns.
Nesta categoria, quem sabe, se encontre a maioria das pessoas que estão lendo este artigo, as que vão opinar e me detonar, mas preciso falar sobre o assunto.
Tem pessoas que adoram ler e assistem ao BBB, não vai ser por causa do programa que a população vai deixar de ler – quem sabe seja pela falta dinheiro para comprar livros, pela falta de boas escolas para alfabetizar nossos filhos e principalmente porque não há incentivo para amar a leitura como se deveria. Então confrontar o BBB com ler um livro, é, digamos,  patético.
Uma das maravilhas inventados no século passado se chama “controle remoto”, nos dá a possiblidade de trocar de canal ou, se quiser ser mais radical, pode até desligar a TV (incrível, mas é verdade), mas parece que muita gente ainda não está sabendo dessa maravilha da tecnologia e suas funcionalidades e, pelo que percebo, ficam grudadas naquela “porcaria” de programa de TV.
Então, lá vai a primeira dica: Não gosta do BBB? Troque de canal ou desligue a TV. Não perca tempo postando “Não assistam o BBB, blá, blá”, aproveite o tempo e vá ler um livro.
Temos aquelas pessoas que chegam à empresa e apontam com o dedo e dizem “O Eduardo gosta do BBB”, como se fosse um crime. O Eduardo que olha para ele, como se estivesse dizendo “Que cara imbecil”. Ao carinha, que odeia BBB se somam outros (alguns sinceros outros não), dizendo “Essa porcaria? Não perco meu tempo” e mais um “A degradação da TV brasileira”, e nesse momento que nasce o “Bullying BBB”.  Não se preocupem, isto não é uma novidade, acontece há anos com o Silvio Santos, que ninguém assiste (programa para dona de casa e ignorantes), mas na segunda todos comentam “Estava trocando de canal e então passei pelo Silvio Santos…”
Um amigo que adora o BBB e cansado de tanta gozação me dizia que tem muita gente que gosta, mas não assiste porque nesse momento podem estar no barzinho com os amigos tomando uma cerveja e falando sobre a crise existência do seu “eu interior” ou quem sabe sobre os conflitos na Ucrânia ou a matança das baleias no Japão, enquanto suas mulheres estão no motel com seu melhor amigo assistindo o BBB.
Ou tem aqueles que na hora do programa foram ao cinema assistir aquela mostra de cinema de um diretor muito renomado do Uzbequistão e seu filme de oito horas de duração que consiste em ver uma maçã ser cortada em 48 diferentes ângulos, cada um, logicamente com sua leveza e, ao mesmo tempo, estilo único: um mestre esse cara,  arte… simplesmente arte.
O que dizer dos que odeiam o BBB e se deleitam numa exposição de um artista do leste europeu cujo sobrenome de composto de 23 letras e duas vogais é mais difícil de entender do que o tema que trata a própria exposição. Como é bom ser culto.
Para que assistir o BBB se existe o Discovery? Tem gente que somente assiste Discovery (na minha TV tem 300 canais Discovery). Para que ver bundas ou desconhecidos brigando se posso me dar um banho de cultura e ser um expert em Civilizações Extraterrestres ou nas culturas Maia e Inca? Viajo a Machu-Picchu sem sair de casa, Discovery é tudo.
A resposta é simples, PORQUE NESSA HORA QUERO ASSISTIR A PORCARIA DO BBB!!! Se quisesse cultura, corria para a Biblioteca, ia ver o filme do carinha do Uzbequistão ou a exposição do Nwdhfglwiytbnmsordfhnvc (podem contar 23 letras e duas vogais). 
Quem assiste o BBB não quer ver cultura, isso é lógico, que se divertir bisbilhotando a vida alheia, apenas isso. É como querer que uma pessoa que está lendo um livro de Tolstoi caia na gargalhada com a piada da página 1.452. Não vai acontecer. 
O pior é que a pessoa se sente inteligente por não assistir o BBB. É como se fosse uma credencial que o exime da ignorância, da mesmice e principalmente do vazio que aquele programa “sobre nada” transmite, pelo menos para ele.
Então, para eles, há dois tipos de pessoas: os que assistem o BBB, que são os idiotas, retardados, ignorantes e vazios e os que não assistem, neste caso, os inteligentes e cultos.
Estes “pseudo intelectuais” se perguntam por que o Bial faz aquele programa (sim, eles acham que terroristas sequestraram a família do Pedro e ele faz o programa obrigado). Relembram os tempos em que o jornalista era enviado especial da Globo ao exterior e nos bons momentos jornalísticos que ele já teve, esquecendo que hoje ele ganha alguns milhões por aparecer três meses por ano no vídeo e provavelmente é feliz desse jeito.

Se pudesse escolher entre o bem e o mal, ser ou não ser?

A vida é muito curta para sermos tão amargos. Vamos deixar que as pessoas sejam felizes do jeito que elas escolheram.
Ninguém é mais retardado, ignorante ou imbecil por assistir o BBB, Silvio Santos ou A Fazenda, assim como ninguém é um chato por ir a exposições, gostar de cinema arte ou assistir Discovery.
Temos que aprender a tolerar as diferenças, gostar ou não gostar é uma escolha pessoal, mas nunca podemos nos tornar detonantes de raiva ou preconceito.
Viva o BBB! Viva o cinema do Uzbequistão!