Nem o otimista dos otimistas ia imaginar
que depois daquele BBB, em que o Kléber Bambam e sua boneca Maria
Eugênia levaram os 500 mil reais, viriam mais 13. Não sei se vocês
lembram, mas, assim que o Bambam venceu, ele foi levado de helicóptero
para uma entrevista ao vivo no programa do Jô Soares em São Paulo.
Surreal.
Se o glamour diminuiu, o prêmio
triplicou: um milhão e meio de reais para o vencedor. E enquanto na
maioria do planeta o BBB é uma vaga lembrança, no Brasil, o programa
continua um sucesso (por mais que, logicamente, a audiência não
seja mais de 50 pontos e sim de 27 ou 28, o que é enorme para qualquer
país).
No decorrer dos anos percebi algo muito
interessante: o programa foi se transformando. Mais provas, mais
participantes, paredões triplos, anjos, demônios, prêmios, casa de
vidro, convidados internacionais, quarto do pânico, big fone, quem sabe
muito mais manipulado edição a edição, o que fez com que perdesse sua
inocência inicial, mas quem também mudou foi o telespectador.
O que é o BBB?
Para falar do programa é preciso
entendê-lo. É um reality show onde 14 (ou mais) desconhecidos são
colocados numa casa e deixados lá por quase três meses, para fazer o
que? Nada. Tudo é filmado e para quem não tem pay per-view, todas as
noites (e são todas mesmo) pode se ver o programa editado (nem sempre
como alguns gostariam).
O que acontece?
Na maioria das vezes brigas, mulheres
seminuas chorando à beira da piscina totalmente bêbadas, paixões (de
mentira ou não), intrigas, conchavos, tudo para ganhar o prêmio
oferecido e principalmente sobreviver uma semana a mais no confinamento.
Por quê? Cada semana que passa os BBB’s ganham um valor em dinheiro,
muito pouco, diga-se de passagem, mas o que realmente todos querem é
“aparecer” e, cada dia no programa, ficam mais conhecidos, o que pode
significar ao sair ganhar mais dinheiro em eventos nos quais chegam a
cobrar até 10 mil reais (sim tem gente que paga 10 mil reais para ter um
ex-BBB na sua festa).
Claro que as beldades seminuas que choram
bêbadas à beira da piscina precisam mostrar seu corpo para poder
estampar nas páginas das revistas masculinas e ganhar cachês que podem
variar de acordo com o tamanho (não da bunda, do cachê mesmo) de 200,
300, 500 mil ou até mais. Nessa hora se confirma a transformação em
celebridade instantânea.
Além dos eventos ou tirar a roupa, muitos
optam por estudar teatro, acham que a televisão está em suas veias, que
nasceram para aquilo. A maioria estuda projetos e propostas que nunca
foram feitos e muito menos viraram. Mas se a Grazi e a Sabrina Sato
conseguiram…
…basta ter fé.
É um programa para voyeurs? Sim, claro
que é. Mas acredito que a TV é para voyeurs, até ai nenhuma novidade, o
que me causa espanto é ver a rejeição (justificada ou não) que o
programa tem. Identifiquei pelo menos três tipos de telespectadores (ou
não) que o BBB atrai atualmente:
1- O que assiste e não tem vergonha de gostar
- Este tipo de telespectador é aquele que
em dezembro está esperando que seja divulgada a lista com os
participantes para ver as fotos, saber o que cada um faz, de que Estado
são, o mais bonito, a mais gostosa, e começar a palpitar quem será o
ganhador.
- Mesmo acreditando que este ano não terá tanta graça, acaba assistindo todos os dias e torcendo como se fosse o BBB 1.
- Fica feliz durante os três meses que dura o programa, sabe que depois
da novela tem algo para ver. As terças e domingos são um dia especial.
- Não tem medo de assistir o BBB no celular no restaurante, na pizzaria ou onde quer que esteja.
- Assina o pay per-view e faz questão de ver o programa editado para fiscalizar a produção e falar mal do Boninho.
- Se não liga para votar (custa caro), pelo menos o faz pela internet,
não somente no site do BBB, vota também naqueles de pesquisa que não
valem nada, mas influenciam os telespectadores a votar em determinado
candidato dependendo da porcentagem que tiver.
- Como não poderia deixar de ser, sabe tudo o que acontece dentro da
casa e odeia e ama pessoas que até 10 dias atrás não sabia que existiam.
- Chega a se emocionar até as lágrimas com os discursos do Bial.
- Geralmente bate uma depressão no fim de março, início de abril, quando o programa está acabando.
2- O que diz que não assiste, mas assiste
Este tipo de ser é aquele que chega à
empresa e diz para o amigo que assiste ao programa: “Eu não assisto, mas
vi que tem uma menina lá que é muito bonita e está ficando com um cara
cabeludo” ou “Ontem estava zapeando e parei no BBB, que briga foi
aquela?”
Assistiu as primeiras edições, não teve
mais paciência e ouviu dizer que ver o BBB deixa as pessoas retardadas,
então para de ver, mesmo morrendo de vontade (sempre que pode da aquela
“espiadinha”).
A esposa acha um absurdo aquele monte de
mulher mostrando a bunda sem necessidade. Ele concorda, troca de canal e
comenta “onde este mundo vai parar”. Termina assistindo as bundas mais
tarde no Red Tube.
3- O que se acha inteligente por não assistir
Acredito que você já leu esta frase
“Assistir o Big Brother não deixa as pessoas mais burras assim como ler
um livro não as deixam mais inteligentes”, mas parece que nem sempre é
assim, pelo menos para alguns.
Nesta categoria, quem sabe, se encontre a
maioria das pessoas que estão lendo este artigo, as que vão opinar e me
detonar, mas preciso falar sobre o assunto.
Tem pessoas que adoram ler e assistem ao
BBB, não vai ser por causa do programa que a população vai deixar de ler
– quem sabe seja pela falta dinheiro para comprar livros, pela falta de
boas escolas para alfabetizar nossos filhos e principalmente porque não
há incentivo para amar a leitura como se deveria. Então confrontar o
BBB com ler um livro, é, digamos, patético.
Uma das maravilhas inventados no século
passado se chama “controle remoto”, nos dá a possiblidade de trocar de
canal ou, se quiser ser mais radical, pode até desligar a TV (incrível,
mas é verdade), mas parece que muita gente ainda não está sabendo dessa
maravilha da tecnologia e suas funcionalidades e, pelo que percebo,
ficam grudadas naquela “porcaria” de programa de TV.
Então, lá vai a primeira dica: Não gosta
do BBB? Troque de canal ou desligue a TV. Não perca tempo postando “Não
assistam o BBB, blá, blá”, aproveite o tempo e vá ler um livro.
Temos aquelas pessoas que chegam à
empresa e apontam com o dedo e dizem “O Eduardo gosta do BBB”, como se
fosse um crime. O Eduardo que olha para ele, como se estivesse dizendo
“Que cara imbecil”. Ao carinha, que odeia BBB se somam outros (alguns
sinceros outros não), dizendo “Essa porcaria? Não perco meu tempo” e
mais um “A degradação da TV brasileira”, e nesse momento que nasce o
“Bullying BBB”.
Não se preocupem, isto não é uma novidade, acontece há anos com o
Silvio Santos, que ninguém assiste (programa para dona de casa e
ignorantes), mas na segunda todos comentam “Estava trocando de canal e
então passei pelo Silvio Santos…”
Um amigo que adora o BBB e cansado de
tanta gozação me dizia que tem muita gente que gosta, mas não assiste
porque nesse momento podem estar no barzinho com os amigos tomando uma
cerveja e falando sobre a crise existência do seu “eu interior” ou quem
sabe sobre os conflitos na Ucrânia ou a matança das baleias no Japão,
enquanto suas mulheres estão no motel com seu melhor amigo assistindo o
BBB.
Ou tem aqueles que na hora do programa
foram ao cinema assistir aquela mostra de cinema de um diretor muito
renomado do Uzbequistão e seu filme de oito horas de duração que
consiste em ver uma maçã ser cortada em 48 diferentes ângulos, cada um,
logicamente com sua leveza e, ao mesmo tempo, estilo único: um mestre
esse cara, arte… simplesmente arte.
O que dizer dos que odeiam o BBB e se
deleitam numa exposição de um artista do leste europeu cujo sobrenome de
composto de 23 letras e duas vogais é mais difícil de entender do que o
tema que trata a própria exposição. Como é bom ser culto.
Para que assistir o BBB se existe o
Discovery? Tem gente que somente assiste Discovery (na minha TV tem 300
canais Discovery). Para que ver bundas ou desconhecidos brigando se
posso me dar um banho de cultura e ser um expert em Civilizações
Extraterrestres ou nas culturas Maia e Inca? Viajo a Machu-Picchu sem
sair de casa, Discovery é tudo.
A resposta é simples, PORQUE NESSA HORA QUERO ASSISTIR A PORCARIA DO BBB!!! Se
quisesse cultura, corria para a Biblioteca, ia ver o filme do carinha
do Uzbequistão ou a exposição do Nwdhfglwiytbnmsordfhnvc (podem contar
23 letras e duas vogais).
Quem assiste o BBB não quer ver cultura,
isso é lógico, que se divertir bisbilhotando a vida alheia, apenas isso.
É como querer que uma pessoa que está lendo um livro de Tolstoi caia na
gargalhada com a piada da página 1.452. Não vai acontecer.
O pior é que a pessoa se sente inteligente por não assistir o BBB. É
como se fosse uma credencial que o exime da ignorância, da mesmice e
principalmente do vazio que aquele programa “sobre nada” transmite, pelo
menos para ele.
Então, para eles, há dois tipos de
pessoas: os que assistem o BBB, que são os idiotas, retardados,
ignorantes e vazios e os que não assistem, neste caso, os inteligentes e
cultos.
Estes “pseudo intelectuais” se perguntam
por que o Bial faz aquele programa (sim, eles acham que terroristas
sequestraram a família do Pedro e ele faz o programa obrigado).
Relembram os tempos em que o jornalista era enviado especial da Globo ao
exterior e nos bons momentos jornalísticos que ele já teve, esquecendo
que hoje ele ganha alguns milhões por aparecer três meses por ano no
vídeo e provavelmente é feliz desse jeito.
Se pudesse escolher entre o bem e o mal, ser ou não ser?
A vida é muito curta para sermos tão amargos. Vamos deixar que as pessoas sejam felizes do jeito que elas escolheram.
Ninguém é mais retardado, ignorante ou
imbecil por assistir o BBB, Silvio Santos ou A Fazenda, assim como
ninguém é um chato por ir a exposições, gostar de cinema arte ou
assistir Discovery.
Temos que aprender a tolerar as
diferenças, gostar ou não gostar é uma escolha pessoal, mas nunca
podemos nos tornar detonantes de raiva ou preconceito.
Viva o BBB! Viva o cinema do Uzbequistão!