Algumas músicas tentam ser histórias completas dignas de um romance de Tolstói, outras capturam um micromomento como um haiku. Umas querem te fazer chorar, outras querem te fazer dançar – e algumas especiais querem te fazer chorar dançando. Existem todos os tipos de música em 2013, e vários 2013 diferentes em cada narrativa pessoal. O Rock ‘n’ Beats tentou agregar um pouco desse panorama em uma só lista, juntando os 2013s de cada redator e tentando eleger as melhores e mais impactantes canções do ano. Pegue os lenços, os sapatos de dança, as alianças e os tênis de corrida. Você vai precisar de todos.
15. Foals – Providence
Uma banda que mostra evoluções visíveis entre um álbum e outro merece um espaço na lista de melhores discos do ano. Foals, com Holy Fire, garantiu seu lugar desde o momento em que foi lançado no começo do ano. O álbum possui excelentes músicas, mas Providence se destacou por apresentar uma explosão quando atinge seu clímax.
A letra é simples, porém feroz. “I’m an animal just like you, I’ll bleed just a little bit too” repete-se algumas vezes dentre outros versos, até que, surpreendentemente, a canção ganha outra forma. Algo que foi muito bem explorado como um todo neste último álbum de estúdio.
Holy Number mostra que o Foals se achou e deverá seguir por este caminho nos próximos trabalhos. O disco não destoa e foi tão bem construído que você acredita já ter ouvido de tudo, até que Providence comece a ser tocada. – Luiza Aloi
14 The National – Pink Rabbits
Matt Berninger nunca havia escrito uma música tão especial – e ele o fez apontando a banalidade e universalidade dos seus temas. Você pode vir de qualquer classe, raça, apresentar qualquer face do espectro da sexualidade, ter qualquer passado familiar, mas algo te coloca em pé de igualdade com todos os seus pares: você vai sofrer por amor um dia. E sobre isso um mar de lamentos em forma de arte são escritos, versões televisivas de uma pessoa com o coração partido, garotas com o mesmo sofrimento de outras garotas no parque. Mas a universalidade da dor não a torna menor.
A força de Pink Rabbits está na letra, e sua instrumentação, National clássico com toques de metais e um piano Eltoniano, se mistura perfeitamente no conjunto de Trouble Will Find Me. Mesmo assim, a música se destaca, não se mistura facilmente com essa massa de “white girls in the park”. – Ana Clara Matta
13. The Vaccines – Melody Calling
The Vaccines lançou apenas um EP esse ano, depois do bem-sucedido segundo disco de estúdio intitulado Come of Age. Apenas com quatro novas canções, percebe-se uma mudança no estilo, talvez pelo fato de o vocalista Justin Young ter tido problemas nas cordas vocais.
Mesmo com esse desvio, a canção Melody Calling mostra que a personalidade da banda ainda permanece intacta, mesmo que eles tenham adquirido uma postura, digamos, mais doce e menos garage rock. A letra é simples e possui a temática amorosa embalada por acordes do violão. Mas é claro que há a característica guitarra do Freddie Cowan para a canção não deixar de ser totalmente destoada do nome The Vaccines.
A mudança, enfim, indicou que a banda pode tomar novos rumos em futuros discos, o que não é ruim de jeito nenhum. Afinal, muitos conjuntos não conseguem inovar e acabam se perdendo com álbuns pouco aclamados. Melody Calling, portanto, está abrindo as portas para o novo Vaccines. E que venham os próximos discos. – Luiza Aloi
12. Queens Of The Stone Age – I Sat By The Ocean
I Sat By The Ocean é sobre desilusão amorosa, sobre tomar um porre para esquecer de alguém que, na verdade, só vai ser esquecido quando tudo for deixado para lá. Não que seja algo tão novo para o QOTSA (não é preciso ir longe, é só pescar o clássico Go With The Flow). Mas é a música certa para um momento certo da banda, com riffs grudentos e vocais prontos para flertar o stoner rock com um chiclete power pop, de forma com a qual a canção se torna irresistível e arrebatadora. – Izadora Pimenta
11. Black Sabbath – God is Dead
Uma banda com 43 anos de história, não é uma banda qualquer. O Black Sabbath, como o maior representante de heavy metal, ressurge em 2013 com 13, seu triunfante álbum de retorno.
God is Dead?, além de ser uma das mais fortes músicas do álbum, trazendo o melhor dos vocais já danificados de Ozzy Osbourne, mostra como Geezer Butler é capaz de escrever grandes letras, que trazem se nenhum esforço, toda a personalidade da banda: uma mistura de trevas, questionamento, negação e loucura. Traços da discografia do Sabbath presentes em uma música e um disco que, de forma alguma, se destoam do restante da discografia da banda. – Nathanna Raíssa
10. Arcade Fire – Reflektor
Nem todo diálogo entre marido e mulher precisa girar ao redor de compras de supermercado, decisões sobre quem vai buscar o filho na escola ou brigas tensas. Reflektor é mais um dos diálogos musicais de Win Butler e Régine Chassagne, um diálogo intenso, perdido na tradução e no conflito entre duas línguas.
A faixa título do ousado quarto álbum do Arcade Fire encapsula tudo o que o disco representa, e o inaugura com reflexões sobre a morte e com um dos seus principais influenciadores sonoros fazendo uma pequena participação (David Bowie – que retornará ainda nessa lista). Reflektor foi a canção que provou aos fãs que eles poderiam descansar tranquilos, pois o novo Arcade Fire (afinal a cada álbum, temos uma banda) soava tão bem quanto os anteriores. – Ana Clara Matta
9. Paul McCartney – Save Us
Paul McCartney sabe se reinventar como ninguém. Mesmo carregando apenas alguns dos maiores hits mundiais em seu crédito, o beatle se sente confortável para pisar nos mais diversos territórios. Em Memory Almost Full, Even Present Past já poderia nos levar para as pistas de dança, mas Save Us, a faixa que abre New, é ainda mais cativante. Despretensiosa e sem surpresas, sem precisar flertar com nada do que o caracteriza, a faixa solta é um petardo no qual ele apenas implora para que a mulher continue enviando seu amor no calor da “batalha”. Seja essa batalha física ou espiritual, ela se transforma em ânimo para os pés e para o corpo, que insistem em se mexer ao convite de Macca. – Izadora Pimenta
8. Robin Thicke, TI, Pharrell – Blurred Lines
Ah, Pharrell Williams! Quão genial você foi em 2013?! Os gritos típicos de Michael Jackson ecoaram baladas a fora não porque alguma música inédita do Rei do Pop foi lançada, mas porque Williams, Robin Thicke e TI colocaram esse som ao longo de Blurred Lines toda.
“Good girl, I know you want it”. Os versos machistas da canção poderiam ter caído em desgosto num ano em que Pussy Riot e tantas outras mulheres lutaram por uma não objetificação da mulher na sociedade, mas a sacada dos criadores é dar a essa garota da música uma espécie de autonomia em trechos como “That man is not your mate”, “You’re far from plastic”, “The way you grab me”. A pouca camuflagem funcionou e o que pegou mesmo foi a batida Pop, com pegadas Hip Hop, três vozes encaixadas e a sensação de que basta apenas uma audição para Blurred Lines ficar na sua cabeça pelo resto do dia. – Soraia Alves
7. Kanye West – Black Skinhead
“Pardon, I’m getting my scream on”. É já nos primeiros versos de Black Skinhead que Kanye West avisa o que virá a seguir em sua música. O rapper se coloca quase como um animal em exposição para a classe média dos Estados Unidos, que não cansa de ir assisti-lo e também persegui-lo, criticando suas atitudes.
A agressividade da faixa é surpreendente. Apenas com batidas e versos (e alguns gritos que lembram aves), KW cria um ambiente hostil, violento e irresistível. Não é nada estranho balançar de um lado para o outro seguindo o compasso das batidas enquanto Kanye “If I knew what I knew in the past/ I would’ve been blacked out on your ass”. – Soraia Alves
6. Vampire Weekend – Diane Young
Uma escolha bem peculiar (talvez não muito sábia em termos de marketing): o Vampire Weekend retornou dos mortos com um combo assustador liberado na internet na mesma tarde de segunda feira. De um lado, a sutileza e delicadeza de Step. Do outro, uma canção tão direta que não te faz esperar nem mesmo por uma introdução. Como uma pancada repentina surge a voz de Ezra Koenig, logo acompanhada por baixo e guitarra tão processados que mais pareciam uma declaração: o tempo da Micareta Indie e suas notas claras e isoladas acabou.
Diane Young parece o resultado de uma possessão em uma jukebox antiga cheia de discos do Elvis e Buddy Holly. Atualiza o rockabilly para os tempos do processamento eletrônico de voz. E acima de tudo, no contexto do álbum, apresenta uma mudança de tática. É faixa que ousa perguntar: será que é mais fácil entender dilemas de mortalidade e religião… dançando? – Ana Clara Matta
5. Arctic Monkeys – Why’d You Only Call Me When You’re High?
Todo o espírito de AM está presente e sintetizado em Why’d You Only Call Me When You’re High?, o single do Arctic Monkeys que dominou as pistas de dança e prometeu um novo respiro para a banda de Sheffield. Convidativa logo na entrada, com o baixo fazendo uma bela união estável com a bateria, a música, ao mesmo tempo em que resgata as temáticas que nos conquistaram em épocas de Fluorescent Adolescent e I Bet That You Look Good On The Dancefloor. São os romances e não-romances urgentes e cheios de pormenores que atacam os tímpanos dos ouvintes e provam que o Arctic Monkeys ainda pode ser mais do que uma simples banda. Eles já começam a caminhar enquanto grandes, na companhia de Josh Homme enquanto padrinho. Why’d You Only Call Me When You’re High, junto ao conjunto de faixas que compõem o álbum, também já assopra estes novos caminhos, que devem ficar ainda mais amplos no futuro. – Izadora Pimenta
4. David Bowie – The Stars (Are Out Tonight)
Para quem ficou 10 anos sem lançar nenhuma música, The Stars (Are Out Tonight) soa não só como um ótimo retorno, mas também traz David Bowie em uma perfeita forma vocal, alternando momentos de delicadeza a outros de maior agressividade sob a construção de arranjos com ricos violinos, ao mesmo tempo em que a bateria mantém o tom mais Pop da faixa, que é uma das menos densas de seu disco, The Next Day.
A combinação deu tão certo, que a música caiu no gosto geral. Agradou até mesmo quando tocada na novela Amor à Vida, como tema do casal sex-way-of-life Michel (Caio Castro) e Patrícia (Maria Casadevall), mostrando que a intensidade de The Stars (Are Out Tonight) também pode ser levada a outros níveis. – Soraia Alves
3. Justin Timberlake Feat. Jay Z – Suit & Tie
Suit & Tie surgiu para acabar de vez com a imagem que Justin Timberlake fincou durante os anos 90 enquanto integrante do N’Sync. Na companhia de Jay-Z, ele deixou suas influências R&B e soul mais explícitas do que nunca, especialmente ao utilizar um sample de “Sho’ Nuff”, do Sly, Slick and Wicked. A música, carro chefe das pistas e da glória alcançada por Timberlake enquanto príncipe do pop em 2013, é uma prova de que as músicas fabricadas e extremamente produzidas também conseguem cativar corações. Junto ao seu clipe, dirigido por David Fincher, ela se torna a definição mais popular do swag. – Izadora Pimenta
2. Lorde – Royals
É quase impossível escrever qualquer coisa sobre Lorde sem mencionar sua idade. Mas a idade deveria ser menos relevante que a música, deveria ser um mero aspecto de fofoca, não? Não ficamos afinal, como a Revista Caras, colocando ao lado do nome dos compositores um parênteses com seus anos vividos. No caso de Lorde, o motivo é bem simples. Hinos de gerações saem geralmente das penas e violões de compositores já em seu terceiro, quarto, trabalho, gastos pela estrada e pela vida. Mas Ella O’Connor teve a clareza de fazer isso aos 16 anos, idade na qual estávamos ocupados escrevendo bilhetes simpáticos no caderno dos paqueras.
Na era digital, os programas utilizados para produção dos hits da billboard estão disponíveis para o seu computador – mas o estilo de vida dos autores desses hits está distante de você. Royals vira as armas do pop contra os escudos do próprio.
E se você faz parte do (infelizmente amplo) time de detratores que julga Royals uma música de conotação racista… bem, então a notícia é ruim: uma adolescente de 16 anos é melhor em interpretação de texto que você. – Ana Clara Matta
1. Daft Punk – Get Lucky
We’re up all night to get….
Sim, você já esta ouvindo a guitarra do Nile Rodgers tocando alegremente em sua cabeça. E passará o resto do dia cantarolando com a voz do Pharrell. Sabe porque?
Get Lucky foi o hit do ano. A música que representou a volta do Daft Punk, a principal canção do excelente álbum Random Access Memories.
A pesada campanha de marketing que envolveu o último álbum dos franceses Thomas Bangalter e Guy Manuel de Homem Cristo foi um dos cases de marketing musical de maior sucesso em 2013, e tudo isso graças à Get Lucky, uma musica animada, alegre, dançante e contagiante. Um hit à altura de todas as grandes músicas que o Daft Punk fez em sua carreira, com um toque de nostalgia. Uma música que transcende gêneros, conquistando espaço nas playlists de metaleiros e fãs da Lady Gaga, passando pelos sertanejos. Get Lucky é universal como nenhuma outra música conseguiu ser em 2013.
Se você ainda não teve a oportunidade de dançar ouvindo Get Lucky, o faça agora. Arraste as cadeiras, aumente o som e cante junto. Você vai se sentir o próprio rei do camarote, te garanto. – Guilherme Alves
Nenhum comentário:
Postar um comentário